Ser estrangeiro é viver entre duas vidas ao mesmo tempo

 Ser estrangeiro é acordar em um país e sonhar em outro.

É falar numa língua, pensar em outra e sentir em todas ao mesmo tempo.
É carregar duas casas dentro do peito — uma que ficou e outra que você está tentando construir.

Viver longe da sua terra é viver duas vidas paralelas.
Na primeira, você é quem era:
o sotaque, as lembranças, a comida, o jeito de ver o mundo.
Na segunda, você é quem se tornou:
a força que nasceu da necessidade, o silêncio que moldou sua coragem, a adaptação que virou rotina.

Ser estrangeiro é rir sozinho de uma memória que ninguém ao seu redor entende.
É explicar sua cultura com simplicidade, como se pudesse resumir toda uma história de séculos em poucas frases.
É sentir saudade de coisas que antes você nem percebia — o cheiro da rua depois da chuva, o barulho familiar da vizinhança, o jeito que o céu ficava no fim da tarde.

Aqui, eu aprendi que saudade não é falta, é presença.
É o amor insistindo em permanecer, mesmo longe.
E aprendi também que pertencer não é geografia — é coragem.
Coragem de ficar, de tentar, de seguir mesmo quando o mundo ao redor parece estranho demais.

Ser estrangeiro é viver dividido, mas não quebrado.
É ter duas histórias correndo dentro do mesmo coração.
É navegar entre duas culturas como quem dança entre duas músicas diferentes, tentando achar o ritmo certo.

E apesar de tudo, há algo bonito nisso.
Porque quando você vive entre duas vidas, você descobre que não é feito apenas do lugar onde nasceu,
mas também do lugar onde renasceu.

E no fim, você percebe:
não está perdido — está se multiplicando.

— Shey Itiki




Comments

Popular posts from this blog