Recomeços silenciosos
As vezes eu me pego olhando para trás como quem olha a rua depois que a chuva passou.
Não é nostalgia… é só aquele reconhecimento silencioso de que eu sobrevivi a tudo aquilo que achei que não ia passar.
Muita coisa mudou desde a última vez que escrevi aqui.
Outras continuam iguais — principalmente essa necessidade teimosa de transformar o que sinto em palavras.
Talvez seja meu jeito de respirar.
Talvez seja meu jeito de existir.
Hoje escrevo de Nagoya.
De um pequeno pedaço de mundo que, mesmo tão longe de onde nasci, virou parte de mim.
O Japão tem isso: ele te quebra, te reconstrói e te ensina a encontrar beleza até no cansaço.
Aprendi que recomeçar não tem anúncio.
Não tem fogos, não tem festa.
Às vezes recomeçar é só levantar da cama antes do sol.
É fazer o que precisa ser feito.
É aceitar que algumas respostas só chegam depois de muito silêncio.
E tudo bem.
A vida não exige pressa.
Exige presença.
Hoje eu volto pra esse blog como quem volta pra casa depois de anos longe.
Não porque tudo está resolvido, mas porque finalmente entendi que não preciso estar perfeito para continuar.
Preciso apenas ser sincera comigo mesma.
Se você está lendo isso, talvez também esteja atravessando o seu próprio caminho estranho entre perdas, mudanças e renascimentos.
E se estiver… que bom que você está aqui.
Recomeçar sozinho é difícil.
Recomeçar acompanhado — mesmo que por palavras — é sempre mais leve.
— Shey Itiki
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